De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto.
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto.
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive.
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama.
Mas que seja infinito enquanto dure.

Eu te peço perdão por te amar de repente.
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível,dos teus passos eternamente fugindo.
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo Não traz o exaspero das lágrimas, nem a fascinação das promessas.
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias.
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta.
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade,
o olhar estático da aurora.

Amor em paz

Eu amei
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar.
E chorei
Ao sentir que iria sofrer E me desesperar.

Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você.
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz.
E não sofrer mais!
Nunca mais!
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz.

Soneto a quatro-mãos

Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito.
Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado,
Tão fácil para amar fiquei proscrito,
Cada voto que fiz ergueu-se em grito,
Contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano.
Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.

TODAS AS POESIAS SÃO DE VINÍCIUS DE MORAES

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